TRAUMA DUMP
2025
Esta obra parte de uma experiência pessoal de falha comunicacional — uma tentativa de partilha afetiva que foi interrompida abruptamente por um gesto contemporâneo de alta frequência: o bloqueio. Após o envio de cinco áudios, a interlocução foi encerrada sem resposta, sem escuta, sem devolutiva. A fala foi proferida, mas não acolhida. E isso não se deu por ruído técnico, mas por escolha ativa — um recorte da escuta, um corte na relação.
O termo “trauma dump”, que dá título à obra, emergiu nos últimos anos como uma gíria nas redes sociais para nomear o despejo abrupto de traumas em interlocutores desavisados. Embora traga questões legítimas sobre limites e consentimento, o termo também revela uma tendência contemporânea de higienização emocional: o desconforto com a dor alheia, a recusa da escuta e a supressão da vulnerabilidade — muitas vezes travestidas de autocuidado ou maturidade afetiva.
A obra se estrutura como um vídeo-performance, gravado dentro de uma câmara anecoica — ambiente projetado para absorver totalmente o som, eliminando qualquer reverberação ou eco. Nesse espaço, o som não encontra corpo nem retorno. Ele existe apenas no ato de sua emissão. A artista fala, mas sua fala é imediatamente anulada. Ela tenta se comunicar, mas é engolida pelo espaço.
O uso da câmara não é simbólico: é técnico e conceitual. O silêncio aqui não é ausência — é consequência física. A fala acontece, mas não sobrevive. O som foi emitido, mas não chegou ao outro. Não se trata de mutar o áudio, mas de registrar o momento em que a linguagem é impossibilitada de circular. O vídeo resultante é, portanto, o testemunho de uma comunicação que nasceu já silenciada.
Inspirada por autores como Byung-Chul Han (Sociedade Paliativa) e Christoph Türcke (A Revolução da Comunicação), a obra investiga a forma como o sofrimento e a complexidade emocional tornaram-se indesejáveis em uma sociedade que valoriza a positividade, a produtividade e a assepsia afetiva. A câmara anecoica, neste contexto, torna-se metáfora do sujeito contemporâneo impermeável à alteridade.
Trauma Dump – A Comunicação Impossível é um retrato íntimo de uma tentativa fracassada de encontro. Mas também é uma crítica às formas sintéticas de intimidade que temos aceitado — relações onde a escuta é frágil, onde a alteridade é evitada, onde o silêncio não é contemplação, mas fuga.